VELHA INFÂNCIA

Velha infância, as vezes tão jovem, as vezes vulto de um passado

-Doces lembranças, que restaram em mim…

Me transporto ao passado e me lembro com saudade

-Dos tempos de minha infância..

quando acordava bem cedinho e sentia o cheiro do café no coador de pano

Coado por minha mãezinha..

De pé descalço ia caminhando pela estrada, rumo os fornos de carvão,

– Escutando o cantar dos passarinhos…

Assim passei alguns anos de minha vida

– Bem primitiva…

Chegou o grande dia de mudarmos para cidade,

Um misto de triste e alegria, porque ali eu conhecia

Aquele mundo desconhecido me assustava

Lá fomos nós, mãe, eu e meus irmãos

-Mais novos…

Chegando à cidade, aí meu Deus que coisa estranha

Os carros faziam barulho e vizinhança fazia uma tremenda,

– Confusão…

Chega o primeiro dia de aula Terezinha minha ir…mãe

Me levava pela mão…

Meus Deus qu agonia a escola um caldeirão efervescente

Alunos chorosos, professoras esbravejantes,

-E Sinal agudo e alucinante…

Mas aos poucos fui me acostumando, surge um mundo novo

-Para aquele menino matuto…

Me lembro com saudades dos chup-chups.

De groselha, abacates e tamarindos

-De dona Vicência …

O pudim de pão mais do que dormido e do quebra-queixo

Do Alexandre, que com orgulho dizia, eu não sou de várzea da palma

– Eu nasci no bairro Maria Gorete em belo Horizonte, que inveja boa eu tinha

– De um dia conhecer a capital…

As tardes eram inesquecíveis jogar no campinho de terra,

-No time do grande técnico, Zé Tatu, ou brincar de pique – esconde,

-E rouba – bandeira na rua da minha casa…

Não podia esquecer, de auxiliar a mãe no dia -dia

– Se não tinha castigo ou umas boas correiadas,

-As vezes a ir… mãe nos defendia…

Aos sábados dia do catecismo, dois mandamentos que aprendi e pratico

Com muito zelo amar o próximo e a Deus nosso criador…

Domingo, dia muito alegria, dia de ir à missa

-Louvar a Deus e saudar a virgem Maria…

Nas férias, com alegria, ia para as carvoarias ajudar nos fornos de carvão

Pescar com peneiras, nadar nas águas límpidas de um riachinho,

– E gangorras de cipó…

Com estilingue, caçar indefesos passarinhos, no cerrado, colher, araçás,

– Cagaita e mama – cadela…

O tempo passou e como aquele velho balanço, tudo vazio ficou,

– Hoje são apenas doces lembranças.

– Minha infância…

Orlando Nogueira (O Poeta Carvoeiro)

Belo Horizonte. 13 de outubro de 2023

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